terça-feira, 14 de fevereiro de 2012



Raquel Gonçalves Salgado

Uma brinquedoteca caracteriza-se como um ambiente lúdico, que tem como principal aspecto a diversidade no tocante à oferta de material e elementos simbólicos, que se apresentam como disparadores de brincadeiras, jogos, narrativas e modos de organização social das crianças para brincar e produzir culturas lúdicas
As primeiras experiências de implantação de espaços públicos voltados à oferta de brinquedos e ao trabalho com o brincar ocorreram na Europa, no início da segunda metade do século XX. Na Suécia, por exemplo, em 1963, foi fundada a primeira ludoteca, com o objetivo de emprestar brinquedos e orientar as famílias de crianças com necessidades educativas especiais a brincar com elas (FRIEDMANN, 1992). A partir de então, vários outros espaços, onde as crianças podem brincar ou levar brinquedos para casa, foram implantados em diversos países da Europa, como Inglaterra, França e Itália.
No Brasil, a experiência da brinquedoteca tomou corpo em 1981, na Escola Indianópolis, em São Paulo, com um enfoque diferenciado das Toy Libraries – “bibliotecas” de brinquedos –, amplamente difundidas na Inglaterra, por priorizar a brincadeira da criança e não se restringir ao empréstimo de brinquedos. Assim, foram implementadas várias outras brinquedotecas no País, com especificidades próprias, como foi o caso da brinquedoteca terapêutica desenvolvida na APAE de São Paulo, voltado para o trabalho com crianças com necessidades educativas especiais e suas famílias (FRIEDMANN, 1992).
No âmbito da Universidade, a primeira brinquedoteca inaugurada no Brasil foi a da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, em 1985. Essa iniciativa representou um marco, como aponta Friedmann (1992), para o reconhecimento da importância do brincar no processo de desenvolvimento da criança.



Com base nas considerações teóricas do sociólogo francês, Gilles Brougère (1995, 1998), entendemos por cultura lúdica o conjunto de costumes lúdicos, regras, significações e brincadeiras – individuais, coletivas e geracionais, conhecidas e disponíveis –, que se integra à vida social em que se realiza. A cultura lúdica não se encontra fechada em si mesma, ao contrário, abre-se para o mundo social e cultural que lhe fornece suportes simbólicos e significados que renovam sua existência. Graças a essa dupla dimensão, a cultura lúdica, influenciada, de um lado, pelo universo simbólico mais amplo em que nasce e se realiza, e definida, de outro, pelos modos como os signos que compõem esse universo são transformados em referências lúdicas, jamais se apresenta como uma estrutura uniforme ou estática. Crianças de diferentes idades, gênero, classes sociais, culturas, credos e nações vão compor culturas lúdicas diversas. Por outro lado, debruçar-se sobre a cultura infantil significa compreender também os modos como os adultos representam as crianças e suas relações com elas, bem como as formas pelas quais as crianças se apropriam e respondem a esses discursos, atribuindo-lhes outros sentidos. 


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